sexta-feira, 18 de julho de 2008

Saber ouvir

A vida é bem interessante mesmo. Toda hora aparece algum paciente que me traz novamente no prumo. Como isso???

O fato foi que eu atendi uma paciente sem convênio, com consulta paga , que tinha uma rolha de cêra nos dois ouvidos. Impossibilitado de resolver o problema na hora, devido ao grau de endurecimento e profundidade da cêra, prescrevi medicação para soltá-la e depois realizar a lavagem em um segundo tempo. Pois bem, dito e feito, ela retornou e eu realizei a lavagem. A paciente, a partir desse ponto, me abriu a cabeça e colocou-me nos eixos.

Artista plástica e potencial escritora ela fez uma analogia da remoção da cêra e o fato de escutar melhor, com a profissão médica, isto é, o médico precisa fazer mais do que tirar um elemento obstrutivo, precisa saber ouvir, ouvir as queixas e, como ela mesmo disse, ser mais humano. Conversamos por muitos minutos sobre isso, sobre o nível que chegou a medicina e a vida hoje em dia.

Vivemos cada vez mais isolados, tensos e carentes. Quantas são as histórias de colegas médicos, sobre pacientes que vão aos consultórios somente para receber um pouco de atenção? Será que a rotina das nossas vidas, o mecânico ato de viver, nos deixou mais sozinhos? Divaguei sobre isso enquanto ela tecia comentários sobre a sua vida e como encontrou o caminho do autoconhecimento no passar dos anos. De uma certa forma ela também queria ser ouvida, queria um tiquinho de atenção e eu dei. A maioria dos profissionais médicos de hoje não liga mais pra isso, ou vai me dizer que você nunca foi em um médico que nem olha na sua cara? E nem é culpa deles, garanto.O mundo capitalista e a desvalorização do médico traz a frieza, a necessidade da produtividade em massa para a sobrevivência. É, é verdade...nós também temos que pagar as nossas contas e cada vez recebemos menos pelas consultas, daí a frieza, o desapego humano. Eu, como médico sempre me vejo nesse dilema e confesso que o dinheiro faz ficar assim, mas tenho a sorte de encontrar pessoas que me tragam de novo para o real propósito da profissão médica: a vida. Não no sentido de morte, mas no sentido de qualidade de vida. O auxílio e amparo.

O simples fato de fazer alguém ouvir, desobstruir seu ouvido, fez desobstruir minha mente, se é assim que se diz. Não sei quando precisarei de novo de sábias palavras e testemunhos para colocar-me no eixo novamente, mas vale ressaltar que isso me fez muito bem. Queria agradecer aqui essa pessoa que me trouxe essa visão da vida.

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Dotô no cinema: WALL-E

Como é bom sair do cinema de alma lavada!! Confesso que isso estava difícil de ocorrer, mas até que enfim aconteceu, e com o novo filme da Pixar, Wall-E.


Vá ao cinema assistir..você vai se surpreender com a história do robozinho apaixonado que organiza o lixo de um planeta terra completamente abandonado pelos humanos em um futuro distante.


O filme é um deslumbre em perfeição e realismo. A poeira, o metal enferrujado, a terra seca, a atmosfera pós-apocalíptica, tudo é de um detalhismo e perfeccionismo impressionantes. A qualidade técnica das produções da Pixar está cada vez melhor. E não são só aplausos às perfeitas tecnicas de animação. Wall-E tem alma, coisa que muito ator por aí não tem.


O filme quase não tem diálogos ( os sons dos robôs foi idealizado pelo mesmo cara que fez os sons de E.T. e Star wars, Ben Burtt) e nem precisa mesmo.Ele te prende de uma tal forma e te emociona sem falar nada, tamanha é a transparência de emoções que os robos emanam. São cenas de um lirismo nunca antes visto, que remetem ao cinema mudo( Chaplin ficaria feliz com a homenagem) e às comédias românticas que norteam as superporduções hollywoodianas.


O robozinho encanta, em seus gestos, atitudes, doçura ...é tudo muito perfeito. Wall-E já nasceu clássico e vai cada vez mais marcar nossas vidas como nenhum desenho animado em CGI marcou..Recomendo..