quarta-feira, 6 de março de 2013

A polêmica do cotonete

Esse assunto é diário na vida de um otorrinolaringologista. Pacientes que usam o cotonete e sempre tem algum tipo de problema relacionado a isso, por incrível que pareça.

Antes de falar sobre o tema propriamente dito, um pouco de história.

A haste flexível, ou cotonete, foi inventada em 1920 por um polonês naturalizado americano, chamado Leo Gersternzang. Ele observou que sua esposa usava um palito de madeira com um chumaço de algodão na ponta, para limpar a orelha de sua filha durante o banho. Ele ficou preocupado com a hipótese de que a madeira poderia lascar e machucar o ouvido da criança. O algodão também poderia soltar-se e ficar preso dentro da orelha. Então, ele decidiu desenvolver uma haste flexível que proporcionasse mais segurança ao bebê, sem oferecer riscos ou danos ( fonte: google).

Certo, é melhor fazer com segurança do que fazer com madeira, certo? Em 1920 sim, mas com o passar dos anos, essa idéia caiu por terra.

Vocês repararam que ele desapareceu das
 propagandas na TV? Quem é mais velho lembra..
porque será, hein?
Os cotonetes tem um efeito dentro do ouvido igual a um Pilão, isto é, amassam e "socam" a Cêra dentro do ouvido, formando uma verdadeira Rolha, sem contar que o algodão também pode se desprender da haste flexível e ficar dentro do ouvido. Nada disso é bom e indo além, o cotonete pode traumatizar a pele do conduto auditivo e até perfurar o tímpano! Nós não sabemos a real profundidade do nosso ouvido, logo, podemos romper o tímpano com facilidade.

Então: Não use cotonete..Não precisa secar o ouvido lá dentro depois do banho ou mesmo após mergulhar. O ouvido seca naturalmente! Quanto mais se enfia cotonete dentro do ouvido, mas se forma rolhas de cêra, além de aumentar a sensibilidade para dores e coçeiras, sem contar os riscos. O cotonete é fabricado também para outros fins, para limpar ou tratar outros locais e não necessariamente os ouvidos.

Lembre-se: Ouvido não se limpa..ouvido se cuida..qualquer dúvida ou problema, vá a um Otorrino.

sexta-feira, 1 de março de 2013

Tudo o que você queria saber sobre a Cirurgia das Amígdalas ...

Muitos pacientes tem me perguntado sobre a cirurgia para a extração das Amigdalas ou Amigdalectomia.São perguntas que variam em um amplo espectro de respostas e com isso, resolvi montar este tópico para que vocês possam aprender um pouquinho sobre esse procedimento.

Vamos lá:

1) É uma cirurgia simples??
    Não considero nenhum procedimento cirurgico como simples, pois estão envolvidos nele riscos relacionados a qualquer tipo de cirurgia, como por exemplo, a anestesia, que no caso da  amigdalectomia , é a geral. Tecnicamente é uma cirurgia não muito complexa, daí a impressão de ser simples. Otorrinos mais antigos utilizavam uma técnica de extração muito peculiar, na qual o paciente ficava sedado e a amígdala era removida em questão de segundos, porém hoje em dia, a técnica sob anestesia geral é a mais recomendada, por ser mais segura e se ter mais controle do procedimento.

2) Qualquer pessoa pode operar?
    Desde que não existam riscos anestésicos ou outros problemas de saúde que contra indicariam qualquer cirurgia, sim.

3) Hoje em dia ela ainda é realizada??
   Sim, e muito, porém menos do que antigamente, já que atualmente o tratamento clínico evoluiu bastante.

4) É usado o laser?
  Já se tentou a remoção via laser, mas os resultados não foram muito satisfatórios e o método da incisão com bisturi, elétrico ou não, ainda é o mais utilizado.

5) Como é a cirurgia?

Remoção da amígdala esquerda na visão do cirurgião, de ponta cabeça
Paciente preparado para início da cirurgia,com abridor de boca
   Tanto em adultos como em crianças, a cirurgia segue sempre o mesmo padrão.
   O paciente é anestesiado e deitado é entubado para a anestesia geral. Todo esse procedimento de entubação e indução anestésica, além da própria cirurgia, são feitos com o paciente inconsciente, logo, você não verá, não sentirá nada até o momento que  se encerrar a cirurgia e a anestesia.

  Com o paciente já anestesiado e preparado, o otorrino abre a boca do paciente mantendo-a aberta durante todo o procedimento e através dela realiza incisões em uma região chamada pilar anterior amigdaliano, um região lateral do palato, onde ele consegue acessar o plano perfeito para a dissecção da amígdala. Uma de cada vez, ele vai " soltando" a amígdala até a remoção.


Durante esse processo, em pacientes adultos principalmente, podem ocorrer sangramentos que são controlados com compressão local, pontos ou cauterizações com bisturi elétrico. Após a remoção da amígdala, é feito o controle de sangramentos com suturas ( com fios absorvíveis, logo não precisará remover pontos no pós operatório) ou cauterização elétrica. O mesmo processo é feito na outra amígdala.
  O tempo da cirurgia varia de médico para médico e de paciente para paciente, mas em geral não é um procedimento muito demorado.
 Se você realizou a cirurgia no período da manhã,você geralmente irá receber alta no final do dia, caso não ocorram intercorrências. Paciente que operam a tarde podem ficar até o dia seguinte no Hospital para a alta, mas essa conduta  pode variar dependendo do Hospital onde se realizou a cirurgia

6) E a recuperação, como é??
   Pelo fato da garganta ser uma região muito sensível, a dor é o principal sintoma no pós operatório, tanto em adultos ou crianças,mas em geral dói muito mais nos adultos, pelo fato da amígdala estar mais "grudada" na idade adulta e ocorrerem maiores chances de sangrar. Se você vai operá-las se prepare: vai doer, você não vai comer nada nos primeiros dias e até vai emagrecer. Depois vai melhorando a dor. Podem ocorrer pequenos sangramentos, com sangue misturado na saliva, nos primeiros dias e até um pouco de febre. Muitas crianças até não falam por receio da dor, o que gera uma falsa idéia de que também muda o padrão vocal ou atinge as cordas vocais.

7)Tem uma melhor época do ano para operar?
  Não, a melhor época é o paciente que decide de comum acordo com seu médico.

8) Quais são as complicações que podem ocorrer depois?
Placas de fibrina no pós operatório 
 A principal complicação que pode ocorrer é a relacionada a sangramentos orais.Como eu já disse antes, pequena quantidade de sangue misturado na saliva é normal nos primeiros dias, mas sangramento intenso, que enche uma toalha de uma só vez de sangue é sinal de hemorragia e o cirurgião deve ser contatado. O paciente pode vomitar sangue digerido durante a cirurgia nas primeiras horas do pós operatório, o que é  previsível.
 O aspecto visual da garganta no pós operatório pode preocupar alguns pacientes, pois podem ocorrer inchaços da campainha ( uvula) ou até pequenos hematomas no céu da boca, além das placas de fibrina ( ver foto à direita), que são secreções esbranquiçadas que ficam no lugar das amigdalas e que se parecem com pus ( na verdade são sinais de cicatrização local).

Espero que essa pequena explicação tenha ajudado vocês.
Qualquer dúvida mandem comentários que responderei em breve, com prazer.